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A Religião para Lacan


A partir das hipóteses acerca dos instintos do homem e suas angustias, surgi através de Freud à psicanálise, formando a concepção da neurose. Muitos dos indivíduos apresentam sintomas como: humor deprimido, energia diminuída, vontade e pragmatismos rebaixados. O conjunto de tais sintomas é chamado de síndrome, desenvolvendo assim a neurose e trazendo juntamente com o sujeito os sentimentos de angustia.

Durante toda a existência da humanidade, o homem tentou encontrar a cura para seus sofrimentos, Lacan em Sua Obra “O triunfo da religião”, posiciona-se claro em suas concepções, relatando a importância da religião em saber lidar com as angustias e ao mesmo tempo supera-las, produzindo o sentido à humanidade no atual mundo moderno.


Encontramos o homem corroendo dentro de si as suas angustias e mazelas. Em toda existência da humanidade foram comprovados estatisticamente nos dias de hoje, o maior número de casos de vícios, depressão e câncer.

Um mundo moderno que vivemos repletos de tecnologias, a ciência se avançando e querendo esta superá-la, valores e sociedade mudando constantemente as concepções de vida. Será que realmente Lacan ao se posicionar sobre a posição da religião encontra a luz a este mundo capitalista e globalizado?


Irei destacar a posição de Lacan, nos seguintes papeis na sociedade: Estado, Educação, Ciência, Psicanálise e Religião. Todos esses aspectos serão abordados em uma análise, refletindo as bases dos pensamentos de como Lacan chegou às afirmações do papel da psicanálise e o lugar da religião na construção do sujeito no mundo moderno.


Para abordar e formar as concepções das novas perspectivas da posição da religião perante a sociedade na construção do sujeito e o papel da psicanálise no mundo atual, basearei na leitura do livro “O triunfo da religião” de Jaques Lacan. O autor em sua obra, através do conceito de Freud em “O mal estar da civilização” e “O futuro de uma ilusão”, destaca na época de Freud um momento em que a cultura e a civilização estariam sofrendo um grave desconforto em suas estruturas.


O sujeito sofrendo de angustias e ansiedades, voltando-se contra ele mesmo, como relata Freud “Assim, nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição. Já a felicidade é muito menos difícil de experimentar. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas, e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro.”, Lacan baseado nas concepções de Freud, coloca à ideia em que o ser humano estaria fadado a infelicidade e a angustia, ousando-se assim a avançar em sua obra e posicionando-se em relação aos papéis: Estado, Educação, Ciência, Psicanálise e Religião.


No contexto da Educação para Lacan, apesar do educador possuir sua função dentro contexto social, em se tratando das angustias do ser humano, o educador jamais conseguiria transformar o sujeito, para o autor o próprio educador não possui a ideia do que seja educar: “Quero dizer não apenas faltam candidatos, como não faltam pessoas que recebem o carinho, isto é, que são autorizadas a educar. Isso não quer dizer que tenham a mínima espécie de ideia de que seja educar. As pessoas não percebem muito bem o que querem fazer quando educam. Mas raramente refletem sobre ela”, Lacan O triunfo da religião. Neste contexto os educadores para o autor possuem seu papel dentro da humanidade angustiada, em sua concepção é necessário a educação para que os homens consigam se suportar “Os educadores são pessoas que julgam poder ajuda-lo. Consideram inclusive que no mínimo a ser dado para que os homens sejam homens, e que isso passa pela educação. Não estão completamente errados. É preciso de fato certa educação para que os homens consigam se suportar”. Lacam afirma que os educadores não fazem ideia do que fazem, mesmo assim não impede de fazê-lo, inclusive de fazê-lo muito mal.


Dentro da esfera do Estado, Lacan relata a incapacidade da política também gerar conforto para a humanidade, considerado para ele a esfera política insustentável, deixando claro que os grupos de lideranças estariam diretamente ligados às questões edípicas, sendo assim seus seguidores seriam como seus líderes neuróticos, comparando este ao papel dos educadores como relata: “As pessoas que governam assim como os que educam, não fazem no final das contas a mínima ideia acerca dos que fazem”, Lacam posiciona-se no papel dos governantes para a sociedade como uma necessidade “Afinal, governantes não deixam de ser necessário, e governante governam, isso é um fato. Não apenas governam como isso agrada a todos”.


No contexto da ciência o autor considera uma posição impossível, pois os cientistas também possuem as suas crises de angustias: “Suas crises de angustias não tem mais importância que qualquer outra crise de angustia. A angústia é coisa totalmente inútil, desprezível. Mas é divertido ver nesses últimos tempos alguns cientistas que trabalham em laboratório seríssimos alarmarem-se de repente, ficarem com medo, o que significa ter um cagaço, e se dizerem “Suponham, depois de termos feito delas um instrumento sublime de destruição de vida, que um fulano liberte do laboratório todas essas pequenas bactérias com as quais fazemos coisas maravilhosas.” Isso ainda não foi feito, não chegaram a esse ponto. Mas eles começam a ter uma pequena ideia de que seria possível fazer bactérias resistentes a tudo, que não pudessem ser mais detidas.” Lacan, portanto posicionava a Ciência como destruidora da humanidade por meio de suas próprias experiências.


A posição da Psicanálise para o autor perante a humanidade é uma necessidade necessária, sendo o sintoma de mal estar do indivíduo que está em análise, pois abre espaços para o homem falar de suas angustias, mas não será ela que irá superar as angustias da humanidade.


Para Lacan (2005c, p.63), a análise se ocupa com algo que não funciona, o qual ele o chama de “O real”, ou seja, a perda de um objeto, que gera ao indivíduo a angustia de tê-lo, e o que não funciona “o real”, é a falta de sentido ao homem, causando assim a suas angustias e gerando o mal estar no qual a humanidade está inserida. Lacan em relação ao futuro da psicanálise relata: “Talvez seja um caminho pelo qual se possa esperar pelo futuro da psicanálise – ela devia se dedicar suficientemente à esquisitice”.


O autor posiciona-se em relação à humanidade como algo insustentável, pois “o real” torna o Estado, Educação, Ciência e Psicanálise na condição de incapacidade onde o sujeito estaria fadado a angustia.


Portanto para Lacan o “real” é considerado o obstáculo à sociedade, o indivíduo estaria fadado a angustia. O Estado, Educação, Ciência e Psicanálise seriam incapazes de fornecer sentido ao sujeito diante do “real”.


Lacan (O triunfo da religião, p.65) diz: “Sim, não triunfará apenas sobre a psicanálise, triunfará sobre muitas outras coisas também. É inclusive impossível imaginar quão poderosa é a religião”. Lacan deixa clara a posição da psicanálise e religião: “A psicanálise não triunfará sobre a religião, é porque a religião é inquebrável. A psicanálise não triunfará: sobreviverá ou não”. O autor posiciona a religião como cura dos sofrimentos da humanidade: “... a religião terá muito mais razões ainda para apaziguar os corações”.


Na construção do sujeito: A religião terá o papel principal: “Ela (a religião) encontrará um, a correspondência de tudo com tudo. É inclusive na sua função”. Lacan acredita que as tensões do cotidiano como: Angústias, sofrimentos, tensões e desejos, a religião faz que esses sentimentos adquiram o sentido ao indivíduo, triunfando assim, na construção desse sujeito.


Para o autor a psicanálise é um sintoma de mal estar do indivíduo que está em análise, “O analista permanece aí. Está aí como um sintoma. Só pode a título de sintoma”. A religião seria a cura para esse mal-estar, “Mas você verá que a humanidade será curada da psicanálise. Por força de mergulha-lo no sentido, no sentido religioso naturalmente, acabarão recalcando esse sintoma”. Lacan coloca sua posição em qual seria o objetivo da religião na sociedade, ou seja, na sua concepção a religião seria a cura para o individuo, por esta, saber lidar com as angustias e as mazelas e saber supera-las, produzindo o sentido necessário à humanidade.

 

Bibliografia


Lacan, Jaques. O Triunfo da Religião precedido de Discurso aos Católicos. Rio de Janeiro: Editor Jorge Zahar, 2005.


Cunha, Gladson Pereira. Qual é o Futuro da ilusão? A Religião no pensamento Lacaniano e sua contribuição para a psicanálise na Leitura de o triunfo da Religião. Artigo p.138-162.


Roseli D Morais

Formação: Matemática e física; Especialização em pedagogia e Psicopedagogia; Psicanalista/didata; Grafóloga; Cursos especializados em Programação Neurolinguística, Hipnose e regressão; Cursando Pós Graduação em Psicologia Psicanalítica.

Atuante nas áreas: Terapeuta/didata; Proprietária do Instituto Roseli D Morais; coordenadora e professora do Instituto de Desenvolvimento Carlos R. Mussato; coordenadora do CAPS na secretaria de Saúde no Município de Nova Odessa; Palestrante e consultora na área de relações humanas em empresas privadas.


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